terça-feira, 3 de abril de 2012

Do que nada se sabe

A lua ignora que é tranquila e clara
e não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
ao abstracto xadrez como essa mão
que as rege. Talvez o destino humano,
breve alegria e longas odisseias,
seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
e truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges, A Rosa Profunda

Fernando Botero, Male Torso | Centro das Artes Casa das Mudas, Calheta, Madeira

7 comentários:

  1. Perfeito este diálogo.
    A escultura é bela e o Jorje Luís Borges é um dos meus escritores, poetas, tudo mais que ele reúne porque faz parte da memória viva.
    Quando fui à Madeira ainda não existia esta escultura.
    Beijinho e boa semana!

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  2. Jorge Luís Borges é sempre soberbo. Como a prosa, a sua poesia interpela. Desta vez permito-me discordar dele. Quem sabe se o destino humano não é mais do que a construção (humana) da consciência de si próprio.

    Um grande beijinho e parabéns por mais esta bela perspectiva óptica :)

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  3. Ai de nós quando não soubermos interrogar-nos

    Borges - sempre

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  4. Alguns confortam-se com explicações simplistas e histórias da carochinha!

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  5. Obrigada por essa leitura, é linda e real, meiga e verdadeira.
    Feliz Páscoa

    bjs nossos

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  6. Esta foto esta um espanto, Sara!
    Obrigada pelos votos de Feliz Pascoa la no meu cantinho, os quais retribuo com amizade. :-) Acabei de comer um chocolatinho ;-) Hoje descobri uma chocolataria nova nas compras para a Pascoa :-) Tenho andado preguicosa para escrever. E do frio (voltamos a temperaturas de 1 grau) e dos bracos moidos no trabalho do jardim da frente (nao tem chovido e tenho que aproveitar para desbastar a selva).
    Beijinhos e come uma fatia de Folar por mim. Adoro o Folar de Chaves, mas como nao tenho familia no Norte, fico-me pelas fotos da Net. :-(
    Bjs! :-)

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  7. Inquietante, este poema. E humilde - ou lúcido - nas suas questões a que ninguém, nunca, saberá responder...
    Abraço forte, como forte é o sentimento que transmite a tua foto:-))))

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