domingo, 30 de outubro de 2011

Trabalhadora inteligente

"E a sua dúvida pode tornar-se uma boa qualidade se a educar. Tem de tornar-se conhecedora, tem de tornar-se crítica. Sempre que a dúvida quiser corromper qualquer coisa, pergunte-lhe por que razão essa coisa é feia, exija-lhe provas, examine-a, e talvez ela lhe pareça perplexa e embaraçada, talvez mesmo irritante. Mas não ceda, peça-lhe argumentos e proceda sempre assim caso a caso, de modo atento e consequente, e chegará o dia em que a dúvida deixará de ser destruidora para se tornar um dos seus melhores trabalhadores – talvez o mais inteligente entre todos os que constroem a sua vida."

Rainer Maria Rilke, Cartas a Um Jovem Poeta, Edições Quasi, pp. 82-83.


Auguste Rodin, O Pensador, 1904 | Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Estrasburgo


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Onde as crianças dormem


O fotógrafo James Mollison retrata no livro “Where Children Sleep” os locais onde dormem crianças de vários pontos do planeta. Neste livro podemos encontrar, por exemplo, o quarto que Indira, de 7 anos, partilha com os pais e irmãos em Katmandu, onde Indira trabalha numa pedreira; ou o quarto de Jasmine, de 4 anos, que reside no Kentucky e já participou em 100 concursos de beleza; ou ainda o quarto em cujo chão dorme Erien, grávida aos 14 anos e moradora numa favela do Rio de Janeiro; ou o colchão que um menino romeno de 4 anos partilha com a família nos arredores de Roma.

As imagens são um bom mote reflexivo acerca de circunstâncias culturais ou mesmo relativismo cultural mas, sobretudo, acerca daquilo que nunca deverá ser relativo: os direitos das crianças, constantemente sujeitos a atropelos e incúria, do outro lado do mundo ou do outro lado da rua.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Rompendo passagens

Fernand Léger, Les Trapézistes, 1954

Têm razão os cépticos quando afirmam que a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas. Felizmente, graças à inesgotável generosidade da imaginação, cá vamos suprindo as faltas, preenchendo as lacunas o melhor que se pode, rompendo passagens em becos sem saída e que sem saída irão continuar, inventando chaves para abrir portas órfãs de fechaduras ou que nunca a tiveram.

José Saramago, A Viagem do Elefante, Caminho, p. 223

sábado, 15 de outubro de 2011

O impreciso que embala

E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isso devia ser o sentido da vida…

Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio - Poemas publicados em vida.
Biblioteca Editores Independentes, p. 33.



Viana do Castelo


sábado, 8 de outubro de 2011

rosas e Rosas

São rosas brancas do quintal da mãe. Gosto particularmente delas, da sua delicadeza e elegância, da sua despretensão. Gosto da sua fragilidade e de que essa condição não seja impeditiva de que resistam pelo Outono dentro. Recordam-me outras Rosas, e Teresas, e Marias, e Luísas, e Anas…, de aparente fragilidade, mas que resistem adentrando outonos, lutam adentrando invernos.
Por isso, e porque não deixam de constituir um símbolo de paz, estas rosas são também um muito singelo tributo a três mulheres que foram merecidamente agraciadas com o Nobel da Paz pela sua luta pacífica a favor dos direitos das mulheres: Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakkul Karman.
Sem sombra de dúvida, a melhor notícia da semana.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Breves incandescências


Foz do Rio Minho, Caminha



















Eis o que eu aprendi
nesses vales
onde se afundam os poentes:
afinal, tudo são luzes
e a gente se acende é nos outros.
A vida é um fogo,
Nós somos suas breves incandescências.

Mia Couto, Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, Caminho, p. 241