sábado, 20 de março de 2010

Deambulações de Sorel

Uma mosca efémera nasce às nove horas da manhã nos grandes dias de Verão, para morrer às cinco horas da tarde; como é que ela podia compreender a palavra “noite”?

Stendhal, O Vermelho e o Negro

9 comentários:

  1. Bom dia Sara
    Nós humanos, por vezes, somos como a mosca efémera... Precisamos passar pela experiência para compreendê-la. Mas se antentarmos à palavra compreender, esta não nos submete à vivência. No entanto leva-nos até à inteligência... Apreender o "objecto" e alcancá-lo pela inteligência.
    Esta passagem levou-me até ao sofrimento... Podemos não o ter vivenciado mas, de alguma forma, o entendemos... o compreendemos.. quando, por empatia nos colocamos no lugar do outro...
    Bom, julgo que esta será uma das tais perspectivas, muito subjectivas, que cada qual empresta às palavras de outrém. Bem vinda a liberdade que nos permite fazê-lo. Preencher o mundo com quantos os olhares possíveis para lê-lo.
    Desejo-lhe o inicio de um bom fim de semana Sara.
    Vejo que progride ao longo das palavras de Stendhal. Deu-me saudades de o voltar a revisitar... Um dia destes!

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  2. Estas deambulações de Julien Sorel surgem quando, já condenado à morte, pondera se valerá a pena esgotar possibilidades para permanecer vivo mais tempo. Isto permitir-lhe-ia recuperar algo que, apesar de já ter sido vivido, não fora compreendido na plenitude. Perante a eminência da morte, começa finalmente a "viver", a "compreender" o que antes estava soterrado pela sua ambição. Ideias que continuam na ordem do dia, afinal: a forma como passamos pelas coisas, a importância que lhes atribuímos num determinado momento, como deixamos que nos afectem...

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  3. Olá Sara
    Não querendo monopolizar os seus coments... lololol
    Só contextualizar; quando li esse livro era pouco mais que uma adolescente. Li-o com uns olhos.... Se o voltasse a ler, os olhos seriam os mesmos, a forma como o faria seria tão diferente... Apesar de não me recordar de passagens especificas do livro, este marcou pela intensidade e profundidade com que desvelava alguns mistérios do ser Humano. Nessa altura, muitos deles já desvelados pelas circunstâncias do meu viver!
    Sempre actuais as palavras do escritor.
    Hoje tornam a fazer sentido para mim em todo o seu esplendor.
    Bjs

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  4. Claro, CF, tem toda a razão: o momento das nossas vidas em que lemos determinada obra influencia grandemente os sentidos que dela extraímos.
    Obrigada pelos seus comentários. Sinta-se livre para aqui "estar" sempre que queira. É muito bem-vinda :)

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  5. Ultrapassando o sentido do livro, esta citação lembra-me, antes, os limites da compreensão humana, de que o "universo", a "eternidade" ou o "infinito" são exemplos. E como terá dito Pessoa, "se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade ou o infinito, saberíamos tudo".
    Boa semana ;)

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  6. Talvez porque, tal como a mosca, também nós somos efémeros...
    Boa semana também para ti!

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  7. "A minha suspeita é de que o universo seja não apenas mais estranho de quanto supomos, porém mais estranho do que podemos supor".

    J. B. S. Haldane (biólogo)

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  8. Olá Carlos, seja muito bem-vindo.
    novamente, parece-me, o confronto com os nossos limites. E com os limites à compreensão desses limites, talvez...

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  9. Olá,estou encantada! Palavras maravilhosas tbm dos comentários, sou leiga no assunto. Mas pra mim tudo parece poesia.
    Obrigada por tudo isso.

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